segunda-feira, 3 de outubro de 2016

A Montanha e eu


O passado não existe, foram apenas pontos da nossa linha da vida que existiram, o passado é o que nos fez o que nós somos hoje. O presente é apenas um ponto, uma fronteira entre o passado e o futuro. O presente é um ponto infinitesimamente pequeno, tão pequeno que na prática não existe, porque quando acabaste de o sonhar já passou. E o futuro é o caminho que desejas trilhar. O futuro é o teu verdadeiro Eu.

O que transforma o ponto numa linha, o que lhe dá continuidade, o que transforma o presente num vector o que lhe dá um sentido, é o futuro, é o sonho que faz com que o ponto se repita, uma e outra vez. O presente é a passada, mas é o sonho que a transforma numa maratona.
A única coisa que existe é a montanha, o que existe é a raiz onde vais torcer o pé, a subida que me faz doer os músculos das pernas, a arvore que me dá a sombra que me abriga, o rio que te vai encharcar os pés, os ramos que abraçam a humidade das nuvens, os gravetos que me rasgam as pernas, o vento que me fustiga o corpo, a rampa que me faz sentir o coração a rebentar por dentro.
Mas a montanha não existe por si só, por estar ali. A montanha existe por que existe o sonho de a subir. Sem sonho, sem expectativas  a montanha ser-me-ia completamente indiferente. E é quando chegas ao cume, a arfar e páras para contemplar a montanha, a sentir o sangue a bombear forte em todas as tuas artérias, e o oxigénio no cérebro, que te sentes vivo morrendo.

Aí, sozinho, esmagado entre a terra e o céu, descobres que o cume da montanha, com todas a toneladas de terra e pedra que tem por baixo, com todos os seus rios e florestas, com toda a beleza que consegues ver, ouvir, cheirar e sentir, existe. Existe mas não à tua volta, existe e sempre existiu dentro de ti. É no cume da montanha, com a melhor companhia do mundo - a tua, que descobres os sonhos que te viram nascer.